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"Satan! Come to us! We are ready! Satan! Come to us! We are ready!" |
Ainda inédito em DVD no Brasil, The Lords of Salem, ou "As Senhoras de Salem" como foi porcamente traduzido em português, veia à tona essa semana com exibição e reprise no Space e inclusão no catálogo do Netflix, onde se encontra disponível até com faixa de áudio em português.
Essa semana eu tive a oportunidade de rever o filme mais odiado da carreira do diretor e roteirista Rob Zombie, inclusive já havia postado uma resenha aqui no Blog em 2012 falando muito mal do filme. Revi com outro ponto de vista e volto a afirmar: o filme prometia muito pelos trailers, noticias, imagens e posters divulgados. Decepcionou por não ser nada daquilo que era prometido. Moral da história: expectativa alta sempre dá merda!
Olhando o filme por outro ponto de vista, mesmo não sendo nada do que foi prometido, é um filme que oferece algo que anda em falta no cinema mainstream atual: um filme adulto, bizarro e indigesto. E um fato curioso é que foi produzido pela Blumhouse Productions (produtora responsável por grande parte dos filmes genéricos como a franquia Atividade Paranormal, A Forca, Amizade Desfeita e aquele remake horroroso do Martyrs lançado esse ano, entre outros....), mas foge totalmente do padrão de filmes da produtora. Alias, The Lords of Salem foge completamente do estilo e abordagem de filme de terror comercial atual, parecendo muito mais com um filme lançado nos anos 70, com todo o estilo psicodélico e satanista que só os filmes daquela época tinham.
Inclusive, a ideia inicial de Zombie era fazer um filme ambientado nos anos 70, mas devido a problemas de orçamento isso não foi possível, sendo assim, dentro da época em que a história é ambientada é atemporal. Não há uma década definida no filme, mas fica claro pelas roupas, cortes de cabelos e músicas tocadas que o filme tenta passar um ar setentista, embora coisas como carros e TVs sejam posteriores aos anos 70.
O filme começa com um flashback ambientado na cidade de Salem em 1696, onde Jonathan Hawthorne escreve um diário falando sobre as bruxas de Salem, um grupo de 6 bruxas fazendo rituais pagãos em uma floresta, liderados por uma bruxa chamada Margaret Morgan (Meg Foster, de Eles Vivem e Mestres do Universo. Envelheceu tão mal que está irreconhecível no filme), que blasfema Jesus Cristo e a Virgem Maria, e profere palavras de adoração a satã - cena que parece ter sido tirada de algum filme satânico nos anos 70 - a volta de uma fogueira, junto com outras bruxas que blasfemam coisas do tipo: "Eu juro, no dia de hoje, ser uma serva fiel do Príncipe Lucifer!", "Juro mente, corpo e alma aos desígnios do Senhor Satanás". Em seguida todas se despem de suas roupas e temos uma cena de nudez grupal grotesca como poucas vezes vistas em um filme comercial. As bruxas são retratadas como mulheres repugnantes, sujas, com dentes estragados e com corpos envelhecidos. Corta para um bode próximo a uma fogueira, a imagem é pausada e aparece o titulo "The Lords of Salem", em uma imagem que parece ter saído diretamente de um filme dos anos 70. Essa rápida abertura dá todo o tom do filme, que continua seguindo o padrão, visual e estilo de filme dos anos 70.
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Black Phillip? |
Após a introdução, o filme corta para os dias atuais e somos apresentados a personagem principal Heidi (Sherri Moon Zombie. A Baby de A Casa dos 1000 Corpos e Rejeitados pelo Diabo). Uma ex-viciada em drogas que agora trabalha de DJ em uma rádio de rock local junto com Herman Jackson (Ken Foree de Despertar dos Mortos) e Herman 'Whitey' Salvador (Jeff Daniel Phillips de H2: Halloween 2). A vida de Heidi se resume a ir a reuniões de ex-viciados em drogas, passear com o cachorro e trabalhar na rádio a noite. Uma noite ela recebe uma caixa contendo um disco de vinil intitulado "The Lords". Achando ser um disco demo de uma banda de metal, ela decide levar o álbum para casa e escutar junto com Whitey. Eles colocam o vinil pra tocar, mas não havia música alguma, só uma sequência de sons estranhos e repetidos, como se o vinil estivesse arranhado, e enquanto ouve, Heidi tem estranhos flashbacks do passado negro de Salem, envolvendo aquelas bruxas hereges da cena de abertura.
Os Hermans decidem tocar o vinil na rádio libertando uma maldição sobre as descendentes mulheres da família Hawthorne. A vingança das bruxas está diretamente ligada a Jonathan Hawthorne - um dos membros da inquisição, o mesmo que escreveu o diário na primeira cena do filme e que também levou o fim do coven de bruxas - e Heidi, que é descendente direta da família dele.
Assim como Ti West fez em seu The House of the Devil (2009) e Robert Eggers em A Bruxa (2015), Zombie faz uso do "slow-burn", que consiste em construir tensão pela narrativa lenta com suspense crescente, deixando o terror e bizarrice lá pra parte final. Infelizmente aqui isso não funciona muito bem e o filme ganha um ritmo vagaroso em vários momentos, principalmente na metade. São 101 minutos que pesam e se arrastam mais que o necessário. E olhando a parte de edição, cenas, dá a leve impressão de que o filme foi editado de qualquer jeito. Isso pode ser reforçado pela falta de vários atores contratados que nem aparecem em cena. Barbara Crampton (Re-Animator), Camille Keaton (A Vingança de Jennifer), Clint Howard (Mensageiro de Satanás), Udo Kier (Suspiria), todos eles foram contratados, gravaram cenas e não apareceram em nenhuma parte do filme...Sobrou até para Ernest Thomas, o Senhor Omar do Todo Mundo Odeia o Chris, que inclusive apareceu em teasers posters, como esse que vocês podem ver clicando aqui. Trágico!
Assim como A Casa dos 1000 Corpos era um retorno e cheio de referencias a clássicos como O Massacre da Serra Elétrica, Quadrilha dos Sádicos, Aniversário Macabro entre outros...The Lords of Salem é cheio de referencias e influencia de outros filmes conhecidos, entre eles, Black Sunday, A Sentinela dos Malditos, O Bebê de Rosemary e O Iluminado. A influencia de O Iluminado é clara desde a primeira cena em que a introdução mostra letreiros mostrando os dias da semana no decorrer do filme. Sem mencionar o enquadramento com planos logos e estáticos em ambiente fechado e o uso do vermelho em várias cenas. É inegável que, tecnicamente, Rob Zombie amadureceu como diretor. Toda a parte técnica do filme é bem trabalhada. Enquadramentos, direção de arte e fotografias muito bem trabalhados, mas infelizmente é muito visual pra pouco conteúdo.
Se eu pudesse definir The Lords of Salem com duas palavras, com certeza seria: "Bad Trip". O filme é uma verdadeira viagem LSD, e não é das melhores. Inclusive, o fato da protagonista ser uma ex-viciada em drogas vem à tona na parte final. Infelizmente a escolha de Sherri Moon Zombie no papel principal foi um grande erro, já que a atriz não consegue expressar nenhuma carga dramática à personagem.
Tudo o que tinha sido desenvolvido em mais de 1 hora é jogado fora e o filme vira uma sucessão de imagens aleatórias sem sentido, parecendo um clipe de banda de rock satânica. É totalmente desconexo ao que havia sido mostrado do começo até a metade. Alguns podem argumentar que a parte final é uma clara referencia/influencia do cinema psicodélico, muito comum nos anos 70 e de filmes como A Montanha Sagrada de Alejandro Jodorowsky. Bom, eu como expectador não consegui entrar nesse clima, alguns diálogos e situações são bobos demais para serem levados a sério.
Existe uma ou outra cena de destaque com imagens grotescas, mas não passam disso, imagens bizarras jogadas na tela sem significado algum por trás. No fim das contas, o grande destaque de The Lords of Salem é ser um filme que vai na contramão do cinema mainstream atual, com um filme adulto, bizarro e indigesto. Revendo o filme agora percebo que a intenção de Rob Zombie foi fazer um filme satânico psicodélico, que evoca o cinema dos anos 70, quase acertou, mas não foi dessa vez.
Título original: The Lords of Salem
Ano: 2012
Duração: 101 min
País: EUA / Reino Unido / Canadá
Elenco: Sheri Moon Zombie, Bruce Davison, Judy Geeson,
Patricia Quinn, Dee Wallace, Michael Berryman,
Maria Conchita Alonso, Ken Foree, Meg Foster,
Sid Haig, Jeffrey Daniel Phillips