Após o sucesso estrondoso de público e crítica que foi a refilmagem O Chamado (2002), baseada em Ringu (1998), Hollywood abriu seus olhos para as produções asiáticas para também investir no mercado. Foi aí que encontraram Ju-On (2002) e decidiram que esse seria o próximo filme a ganhar o tal tratamento. Para o remake, chamaram o Takashi Shimizu, diretor do original para comandar a adaptação. Talvez seu envolvimento influenciou na decisão de não transportarem o enredo para os Estados Unidos, portanto O Grito mantém suas locações nipônicas, o que é sem dúvidas um acerto, pois traz um aspecto visual e até narrativo bem diferente e único.
Quanto ao roteiro, assinado por Stephen Susco (O Massacre da Serra Elétrica 3D), consegue se virar bem pois a história de Ju-On é bastante complicada. Vejam bem, ela se trata sobre uma maldição que reside em uma casa onde uma mulher (e seu filho) foi morta por seu marido em um ataque de ciúmes. O foco está na maldição e não em, por exemplo, num único personagem que se depara com ela. Portanto, não há protagonistas e ao invés disso, nós acompanhamos vários personagens, como eles entram em contato com a maldição e como ela se espalha tão facilmente. Quase uma antologia, é uma abordagem interessantíssima e muito criativa, embora seja cansativa pois deixa o filme inconstante.
Em O Grito, não vemos isso, pelo menos não diretamente. A ótima Sarah Michelle Gellar (Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado) interpreta Karen, uma assistente social americana que faz intercâmbio no Japão e que é contratada por sua empresa para cuidar de uma idosa doente (e também americana), cuja anterior cuidadora desapareceu. Ao chegar na casa, Karen acaba encontrando estranhos acontecimentos. O roteiro de Susco não perde inteiramente a essência do original e para não deixar tão mastigado, coloca a história fora de ordem e com várias interrupções. Na minha opinião, ficou mais coeso e correto que o original.
Dessa forma, além de seguirmos Karen, não por tempo integral, conhecemos outras pessoas que encontraram a maldição como a família da idosa, a garota que cuidava dela e a própria causadora da maldição, a tal da Kayako (interpretada pela mesma atriz do original), cuja identidade é mantida e não simplesmente adaptada, assim como a do seu filho Toshio e do psicótico marido Takeo.
Como não sou um grande fã de Ju-On, não me incomodei com sua adaptação (embora a tenha visto antes dele) e acho que muita coisa saiu bem feita. Há sim algumas ressalvas, no entanto. Uma que pra mim é a maior é que o original tinha um clima extremamente incômodo e desesperançoso. É muito estranho acompanhar as proporções que a maldição toma, além do final ser pessimista e impactante. Como é de se esperar de uma versão americana, o final não é tão emblemático e traz um desfecho bem mais acessível para as plateias que gostam de coisas mastigadinhas.
Não vou mentir, quando eu era menor, O Grito me assustava para caralho e só vim a assisti-lo completo depois de relativamente "grande". Hoje em dia não é um filme tão forte, mas também não é um lixo. Para uma farofa de terror está bem na média e ainda consegue ser bom no que se propõe. Para mim, a continuação O Grito 2 (2006) é um pouco superior, embora recicle algumas cenas deste e de outros filmes, mas tem uma história mais rica ainda e a inspiração no original é bem mais clara, com um desfecho corajoso e bom elenco.
