Como um assíduo fã de filmes de terror, é triste confessar que poucos filmes chegam a me impressionar. Existem sim exemplos que chocam e causam aquela surpresa muito bem vinda e isto não é ruim, mas são poucos os filmes que de fato mexem com você, sacaram? Isso provavelmente é uma das coisas que eu mais sinto falta no gênero e acabo me voltando para os clássicos para procurar uma sensação semelhante à esta. Me preparando para o lançamento de mãe!, novo filme do Darren Aronofsky (Cisne Negro), resolvi rever um dos meus favoritos: O Bebê de Rosemary (1968). Um dos pilares do horror, o filme dirigido por Roman Polanski é baseada no livro de mesmo nome escrito por Ira Levin e traz com maestria uma verdadeira aula de construção de suspense que inspira muitos cineastas até os dias de hoje. Extremamente marcante, o filme chocou as audiências há quase 50 décadas e mesmo depois meio século, ainda consegue chocar e nem parece que o filme envelheceu. Pelo contrário, a experiência é tão impressionante quanto já foi um dia!
Creio que grande parte do favoritismo que tenho por este filme seja por ela abordar um assunto que eu considero, disparado, o mais assustador dentro do gênero e que se bem trabalhado, pode me botar medo mais do que qualquer filme original do James Wan: seitas satânicas. O tema é tão bem trabalhado em O Bebê de Rosemary, utilizando a elaborada mitologia dentro da narrativa ao seu favor, que é impossível não ser fisgado pelos mistérios que a história nos guarda.
Lá, Rosemary conhece Terry (Angela Dorian), uma ex-viciada em drogas que agora mora com os Castevets, um casal de idosos que a acolheu em sua casa. As coisas tomam um rumo estranho quando, noites depois, Rosemary e Guy descobrem que Terry se jogou do apartamento. É aí que eles conhecem formalmente Minnie (Ruth Gordon) e Roman Castevet (Sidney Blackmer). Roman é um homem educado e inteligente, enquanto Minnie tem um jeito bastante intrometido. Os dois casais então se tornam amigos, principalmente Guy e Roman.
Quando desperta, descobre seu corpo com arranhões, justificados por Guy ao revelar que transou com ela mesmo apagada (!). Semanas depois, Rosemary descobre estar grávida. Começa então uma nova fase da vida. Ao invés de ir ao médico recomendado pela amiga, ela começa a se consultar com o médico amigo dos Castevets que é, aliás, um dos mais conhecidos de Nova York, o Dr. Abraham Sapirstein (Ralph Bellamy). Ela começa a ser acompanhada por Minnie, que a serve chás naturais das ervas que ela cultiva na própria horta. Tudo parece estar indo bem mas Rosemary começa a sentir dores horríveis que nunca param e a desconfiança. Com uma breve ajuda de Hutch, Rosemary percebe que está servido como um peão em um assustador jogo que ela não pode controlar.
"Isso não é um sonho! Isso está mesmo acontecendo!"
O fato de O Bebê de Rosemary sempre figurar invejáveis posições em listas de melhores filmes de terror de todos os tempos ou os filmes mais assustadores não é à toa. Roman Polanski realiza aqui sua obra-prima, adaptando a obra de Ira Levin de forma fiel e transformando em um espetáculo de suspense durante um pouco mais de duas horas de duração. É um filme longo e que exige paciência, mas que vale cada minuto.
Como falei no início do post, costumo ser bastante suscetível à ser impressionado por filmes que envolvam seitas. Eu acho interessantes, macabras e intensamente realistas, portanto é fácil me amedrontar se o enredo envolvê-las. O Bebê de Rosemary não chega a assustar, o termo certo não é este, pelo menos para mim. Mas é um filme extremamente eficiente em mexer com você. Assim como a inocente Rosemary se vê presa em um complô demoníaco, o público se vê perdido em meio à tanta paranoia. Os principais fatores a contribuir para isto é a direção de Polanksi e a protagonista Mia Farrow. Na época das gravações, Mia era uma atriz "pequena", conhecida por fazer parte de um show de tv e por ser, até então, esposa de Frank Sinastra, que pediu divórcio enquanto ela filmava o longa. Escrita como uma mulher jovial, dócil, inocente e vinda de família cristã, Rosemary caiu como uma luva em Mia Farrow (ou seria o contrário). Trazendo uma performance sensacional, Mia nos encanta trazendo toda a aflição que sua personagem passa.
Também é muito instigante a forma que a seita é apresentada no filme, de forma cuidadosa e sucinta, nada é revelado antes do momento certo. Isso é bacana também pois cabe ao espectador ir montando as peças pouco a pouco, o que é bem melhor do que tudo jogado na cara de uma vez.
A condução da trama é incrível até chegar nos minutos finais, que é como ver uma bomba explodindo bem em frente dos seus olhos. O desfecho, um dos mais emblemáticos do gênero, é impactante e mesmo você sabendo o que acontece, consegue te chocar de alguma forma. O melhor de tudo é a execução da cena, feita de forma simples e nada expositiva (vide a ausência da aparência do bebê), já que faz sua mente trabalhar para imaginar o que de tão chocante Rosemary viu no bebê.
Em 2014, a NBC produziu uma minissérie de duas partes, readaptando o livro, com Zoe Saldana no papel de Rosemary. Como falamos na nossa crítica, a minissérie é um desastre, sem suspense e cheia de convencionalidades do gênero, além de fazer a cagada de mostrar o bebê (e ser a coisa mais ridícula do universo!). Para qualquer fã do original, é definitivamente um "passe-longe"!


Título Original: Rosemary's Baby
Ano: 1968
Duração: 136 minutos
Direção: Roman Polanski
Roteiro: Roman Polanski
Elenco: Mia Farrow, John Cassavetes, Ruth Gordon, Sidney Blackmer, Maurice Evans, Ralph Bellamy