Abram os portões, pois o slasher está de volta no acampamento de verão! Bem, essa não é a primeira tentativa do cinema em homenagear o subgênero através da nostalgia. Em 2015, por exemplo, tivemos o delicioso Terror nos Bastidores, prestigiando o ano de 1980 com sua mistura de horror e comédia. Não muito diferente dele, recentemente foi a vez de You Might Be the Killer mostrar potencial nesses quesitos. O frustrante, foi ver que nem em toda sua originalidade foi capaz de manter a essência viva.
Contém mais spoilers que o próprio nome
Assim como o título, trailer, poster ou qualquer outro material de divulgação sugere, a trama não tem nada de misterioso a esconder. Como tradição, o instrutor e coordenador do acampamento Sam (Fran Franz) segue a todo vapor para trazer curtição para as crianças que ali harmonizam, e para isso conta com a ajuda da confiável equipe de conselheiros. Quando de repente, Sam se ver fugindo de um assassino e, em meio a blackouts de suas memórias, invoca a ajuda da amiga - e não da polícia - Chuck (Alyson Hannigan) para desvendar quem está por trás dos assassinatos. O "chocante", é chegarem a conclusão de que talvez Sam seja o verdadeiro culpado.
Até para quem caiu de paraquedas no longa (como eu), em menos de vinte minutos de filme pode sacar o que deveria ser o enigma tradicional dos slashers: a revelação do killer, porém, ao mesmo tempo que a suposta incógnita fica exposta, percebe-se a condução proposital para a conclusão de que não era essa a grande sacada do filme. De fato a premissa é bem mais ambiciosa.
Seguindo a vibe cômica, a esperada reverência para com as películas oitentistas do slasher é muito bem explorada através de Chuck e o seu conhecimento com as regras da categoria. Logo, trocadilhos repletos de spoilers de grandes clássicos se tornam contagiantes e envolventes, graças ao senso cínico em que a dupla de amigos é colocada a dialogar, enquanto Sam é tomado pelo desespero. Indo mais a fundo, e adquirindo aspectos marcantes, a trilha sonora, a locadora de vídeo, o telefone, os riscos no vídeo abrangem uma estética para tal época.
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Alyson Hannigan como Chuck. |
Superando as limitações da previsibilidade, Brett Simmons faz de You Might Be the Killer um excelente exemplar de quando um gênero pode ser desconstruído. Diferente de seguirmos a típica história de personagens fazendo coisas estúpidas e que ironicamente atraem suas mortes, Simmons propôs uma narrativa eficaz, onde nem mesmo o desenvolvimento dos jovens conselheiros se tornou um adendo que não foi visitado.
Invertendo o processo tradicional, o ponto alto do longa se encontra exatamente no fato de que o assassino se torna o protagonista. Mas ora, ideia nada nova para um vilão, certo? Mas nesse caso, não acompanhamos a perspectiva dos personagens de encontro com a morte e depois descobrindo como saírem vivos, e sim, o carrasco mascarado obtendo o conhecimento do universo que rege o slasher, como ele e de onde várias figuras fizeram parte e se tornaram memoráveis para a Sétima Arte.
Pausar, confundir as ordens dos assassinatos, brincar com as lembranças de Sam promoveram uma narrativa descontraída e engraçada, tirando a temática de um lugar comum e fazendo o óbvio não ser tão ruim quanto indicava, contudo divertido.
Sem dúvidas, Simmons fez um filme bastante moderado quando o horror precisava tomar forma (até mesmo brutal) e intermediar com a comédia sem nenhuma dificuldade, e depois de tantas investidas duvidosas do diretor com o terror, aqui temos um produto certeiro e com finalidade fechadinha, sem pretensões de estender uma boa fórmula em sequências repetitivas.
No entanto, tal fórmula apresenta um desgaste depois que o usual se fazia presente novamente, mesmo para uma produção que se preocupava em subverter as regras e lógicas que consistem em seu âmbito. Como se não bastasse, depois de tanto esforço para lapidar a história e conduzi-la a base da genialidade e originalidade, acabou dando um tiro no pé e vestindo a boa ideia que arriscou por caminhos bem pensados, com a carcaça da predição.
You Might Be the Killer pode não ser o filme que fez barulho por ser diferente, mas vale a pena por oferecer uma perspectiva distinta e ousada para um gênero que não cansa de repetir. Não se deixe frustrar pelo "talvez" título, pois é tudo verdade, mas vale a descoberta.
Título: You Might Be the Killer
Ano: 2018
Duração: 92 minutos
Direção: Brett Simmons
Roteiro: Kevin Berzoyne
Elenco: Fran Franz, Alyson Hannigan, Brittany S. Hall, Jenna Harvey,Patrick R. Walker