Se o mundo fosse um lugar mais justo, Extraordinary: The Stan Romanek Story (2013) seria adaptado no Brasil como As Extraordinárias Mentiras de Stan Romanek. Afinal, é disso que se trata o documentário.
Prometendo apresentar ao espectador "o caso de contato extraterrestre mais bem documentado do mundo", a obra do diretor estreante Jon Sumple é centrada na figura real de Stan Romanek, norte-americano que relata ter tido contato com alienígenas em sua casa. Além de avistar objetos voadores não identificados com frequência, ele teria sido abduzido e registrado, em vídeos e fotos, seres de outro planeta. Pensei em escrever "a gente finge que acredita", mas nem isso dá para fingir.
O começo do documentário não denuncia o desastre que estava por vir: alguns detalhes são assustadores e quase convencem. As sombras e vultos flagrados por Stan em sua residência são, de fato, sinistros, dando calafrios típicos de bons filmes de terror - o momento em que uma câmera externa é "levada" pelos supostos alienígenas também é interessante. As filmagens de esferas brilhantes e os objetos voadores, por outro lado, não têm peso nenhum. Mas o longa joga sua credibilidade na lata do lixo quando chega na parte em que Stan encontra e filma o suposto alienígena, baixinho e cabeçudo. Ou seja, aquele velho estereótipo de ET dos anos 80 e 90 provavelmente feito com a ajuda de algum amigo ou parente que aceitou participar da farsa - a criatura aparece mais uma vez espiando pela janela (até porque eles viajam o universo para ficar de tocaia na porta da casa dos outros). A partir daí, é ladeira abaixo.
As bizarrices envolvem supostas chamadas telefônicas de uma alienígena com sotaque britânico (?), conversas de Stan com pessoas que só depois são apresentadas, a fotografia de uma alienígena infiltrada em uma palestra e a possível interferência do governo ou de alguma organização secreta (quem liga?). Tudo isso pela óptica de Stan, sua esposa e outros do seu círculo social próximo. Com preguiça de fazer uma investigação mais aprofundada, o diretor Sumple traz alguns "especialistas" para tentar dar alguma relevância às afirmações do protagonista. Se o psicólogo entrevistado serve apenas para dizer que "Stan não tem problemas mentais", o físico não diz nada com nada. O bom é que ele vai poder colocar no currículo que apareceu em um documentário.
É necessário fazer um esforço muito grande para sobreviver aos 30 ou 40 minutos finais. Em uma escolha totalmente equivocada e irracional de montagem, Sumple bombardea o espectador com fotos e vídeos caseiros na primeira parte do documentário e deixa todas as entrevistas para serem exibidas depois, em uma sequência infindável e cansativa. Inclusive, somos obrigados a ver de novo as aparições do ET na casa de Stan e também novos momentos constrangedores (o que são aquelas sessões de hipnose?).
Carregado de pseudofilosofia - o protagonista ainda tenta passar uma lição de moral com base no que aprendeu com a experiência -, Extraordinary: The Stan Romanek Story é um desserviço a quem leva a ufologia a sério. Em meio a tantos casos, fez-se a opção de dar voz a um indivíduo que certamente só estava mais interessado em lucrar em cima da sua fábula (claro que ele escreveu um livro e saiu por aí dando palestras).
Stan, aliás, acabou sendo preso por posse de material pornográfico infantil, fato que o documentário apresenta e logo corre para insinuar que o homem foi vítima de uma armação na qual alguém, provavelmente do governo, teria plantado os arquivos em seu computador pessoal como modo de levá-lo à prisão e silenciá-lo. O mais grave disso tudo é que não vemos uma entrevista de Stan alegando isso em sua defesa, mas o próprio filme abraça a ideia da maneira mais conspiratória e irresponsável possível.
Considerando que o documentário está na Netflix para usuários de vários cantos do mundo assistirem, o governo dos Estados Unidos perdeu de 7x1 na tarefa de calar Stan. E já dá até para engatar uma continuação em que os alienígenas revelam ao sujeito que a Terra, na verdade, é plana. Aliás, daria uma trilogia perfeita: no último filme, Stan descobriria que o aquecimento global é uma farsa. Melhor eu apagar isso antes que o amigo dos ETs leia e leve a sério.

O começo do documentário não denuncia o desastre que estava por vir: alguns detalhes são assustadores e quase convencem. As sombras e vultos flagrados por Stan em sua residência são, de fato, sinistros, dando calafrios típicos de bons filmes de terror - o momento em que uma câmera externa é "levada" pelos supostos alienígenas também é interessante. As filmagens de esferas brilhantes e os objetos voadores, por outro lado, não têm peso nenhum. Mas o longa joga sua credibilidade na lata do lixo quando chega na parte em que Stan encontra e filma o suposto alienígena, baixinho e cabeçudo. Ou seja, aquele velho estereótipo de ET dos anos 80 e 90 provavelmente feito com a ajuda de algum amigo ou parente que aceitou participar da farsa - a criatura aparece mais uma vez espiando pela janela (até porque eles viajam o universo para ficar de tocaia na porta da casa dos outros). A partir daí, é ladeira abaixo.
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Stan Romanek, o homem que diz ter tido contato com ETs |
É necessário fazer um esforço muito grande para sobreviver aos 30 ou 40 minutos finais. Em uma escolha totalmente equivocada e irracional de montagem, Sumple bombardea o espectador com fotos e vídeos caseiros na primeira parte do documentário e deixa todas as entrevistas para serem exibidas depois, em uma sequência infindável e cansativa. Inclusive, somos obrigados a ver de novo as aparições do ET na casa de Stan e também novos momentos constrangedores (o que são aquelas sessões de hipnose?).
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Suposto alienígena infiltrado em palestra de Stan (seria um agente do filme MIB: Homens de Preto?) |
Stan, aliás, acabou sendo preso por posse de material pornográfico infantil, fato que o documentário apresenta e logo corre para insinuar que o homem foi vítima de uma armação na qual alguém, provavelmente do governo, teria plantado os arquivos em seu computador pessoal como modo de levá-lo à prisão e silenciá-lo. O mais grave disso tudo é que não vemos uma entrevista de Stan alegando isso em sua defesa, mas o próprio filme abraça a ideia da maneira mais conspiratória e irresponsável possível.
Considerando que o documentário está na Netflix para usuários de vários cantos do mundo assistirem, o governo dos Estados Unidos perdeu de 7x1 na tarefa de calar Stan. E já dá até para engatar uma continuação em que os alienígenas revelam ao sujeito que a Terra, na verdade, é plana. Aliás, daria uma trilogia perfeita: no último filme, Stan descobriria que o aquecimento global é uma farsa. Melhor eu apagar isso antes que o amigo dos ETs leia e leve a sério.
